Atenta ao contexto para o qual foi pensada, Ária do Encanto reúne cinco décadas de produção artística que reforçam o panorama cultural da cidade. Partindo do acervo da Galeria Quadrado Azul e da produção dos seus autores mais jovens, aliam-se artistas convidados, que surgem aqui, nesta ária do tempo como elementos de novidade, contemporâneos ao presente. Uma contemporaneidade que não se inscreve pelo ano de criação das obras em exposição, mas sim pela convivialidade atemporal – tidas como companheiros do agora – independente dos seus contextos de produção. A exposição vive do tempo e do impulso e concretiza-se na passagem subtil entre aquilo que é o passado e o futuro.
ária
Mesmo que sumptuosa, exuberante e barroca, focada numa narrativa profusa, enaltecida pelo encanto da voz do intérprete, uma ária proporciona equilíbrio e continuidade, dando espaço à espontaneidade, à surpresa e ao contraste. O subtítulo da exposição, “Uma flor que talvez não distinga o céu e a terra”, cita a inscrição na folha do desenho oferecido por Álvaro Lapa a Manuel Ulisses, fundador da galeria. Esta inscrição telúrica remete-nos à nossa posição de desnorteio perante o agora. Um exercício de contemplação que o actual presente exige, no qual deixamos de ser indiferentes ao tempo dando assim, mais espaço à interpretação, valorizando aspectos rotineiros – agora é o tempo do sentir e do pensar. De modo inconsequente, a inscrição parece indicar uma narrativa para a exposição que reúne a obra de dezoito autores, que à semelhança de uma ária, ensaia apostas e incertezas do seu futuro.
É inerente a qualquer obra de arte, o seu poder de inquietação e sedução. É a partir deste encanto, desta energia pulsante, que são reunidas as obras que reverberam, na imaterialidade dos seus conceitos e da sua incorporiedade formal. Para além da carga aurática, definem-se novas camadas de interpretação que advém das relações que estabelecem entre si, procurando evidenciar as suas imaterialidades: obras que preconizam o mito e o telúrico, que vivem da morfologia e do som, que se compõe a partir de ritmos e formas geométricas.
A estrutura da ária parece dar cadência ao que esta exposição ostenta, a necessidade do maravilhamento e do encanto. Num momento em que é necessário repensar a nossa relação com o presente, manifesto de um passado, que urge pelo ‘novo’ e pela sua re-invenção, traduz-se esta exposição numa composição repleta de actos exuberantes, surpreendentes e reveladores.
title · Ária do Encanto – uma flor que talvez não distinga o céu e a terra
place · Galeria Quadrado Azul, Porto
dates · 15.4–5.6.2021
promoter · Situação, Porto City Hall
organization · Situação
chief curator · Miguel von Hafe Perez – "Histórias com amanhã - uma cartografia solidária da relevância das galerias do Porto"
curator · Luís Pinto Nunes, Luís Albuquerque Pinho
artist · Alberto Carneiro, Álvaro Lapa, Ângelo de Sousa, Diana Carvalho, Fernando Lanhas, Francisco Oliveira, Francisco Tropa, Isabel Carvalho, João Marçal, João Pais Filipe, Mariana Caló e Francisco Queimadela, Mariana Barrote, Musa Paradisíaca, Pedro Tropa, Sam Baron, Sara Graça, Zulmiro de Carvalho
design · João Santos
exhibition views · Filipe Braga