Quando se passa à execução,
uma evidência em desenho é o erro. Quando observamos um desenho, conseguimos facilmente identificar as hesitações de quem o realizou, as alterações à forma que este sofreu, as sua definições de materiais e de expressividade. Partindo-se de uma linha, que em poucos gestos define uma estrutura e método, para posteriormente dirigir-se às questões da superfície – tratamento de luz e textura. Estas folhas compreendem a formalização de uma ideia, o esboço de um projecto. São várias as características do desenho: o suporte, os materiais e técnicas, a gestualidade e maneirismo, que se tornam identitárias da tipologia do desenho e também do seu autor.
Antes de se considerar uma folha uma obra de arte, o desenho define-se como um método para a organização do pensamento – factor que lhe é indissociável. Quando se desenha, não há um traço que não seja premeditado, todos ficam inscritos, como reflexo daquilo que observamos ou pensamos, procurando criar uma lógica e sentido.
Os seus modos são transversais às áreas de criação, são o elemento de projecto que serve acima de tudo para organizar e sistematizar ideias, clarificando-as. Relações entre traços que permitem planear e revelar, como o contorno e o dintorno de uma figura de modelo, ou as relações entre palavras e conceitos que dão ritmo a um texto, formando assim um todo. O desenho é um instrumento de acção, uma conduta do pensamento, que no entanto transgride o seu suporte e faz-se ultrapassar a si mesmo.
A exposição observa esta questão da organização e sistematização de métodos de pensamento, resultantes da escassez de tempo disponível para fazer este exercício do ‘desenho’ que admite o erro e o estudo de hipóteses. As associações entre cada uma das obras em exposição vive da lógica do pensamento e dos seus acasos, partindo de uma pureza muito objectiva dos materiais, luz, metal, papel e vidro, nos seus estados puros, transmitindo uma genuinidade de execução que se deixa envolver pela densidade de cada um. Esta pureza inerente aos materiais que constituem as obras em exposição são plasmadas no seu ‘desenho’, promovendo associações entre cada uma possibilitando variações à interpretação da forma.
Assim, é proposto um exercício de entendimento da intenção de ALL OFF que é fruto das relações que as obras sugerem, partindo da ocupação do dintorno do ‘desenho’ da exposição. A reverberação e luz são elementos que caracterizam as obras em exposição, que reflectem e emanam, tirando partido da arquitectura da galeria, preenchendo o espaço em negativo da exposição. Esta ocuação do cheio pela mancha e tratamento da luz com o a definição da superfície do ‘desenho’ que trata exposição, vivendo de um espaço incorpóreo, modelam a relação entre cada uma das obras e artistas.
title · ALL OFF
place · SALA 117
dates · 9.03.–21.04.2018
organization and production · Olinda Magalhães
curator · Luís Pinto Nunes, Luís Albuquerque Pinho
artists · Andreia Santana, Dayana Lucas, Diogo Tudela, Nuno Henrique
designer · Luís Cepa
exhibition views · Filipe Braga